terça-feira, junho 07, 2005

Dark Room

Nesse dark room da vida perco-me
Percorro pernas, braços, membros,
Bocas já beijadas, mãos amassadas,
Carinhos gastos pelos contatos,
Carícias afagadas por almas penadas,
Escuridão de minha alma enegrecida;
Minha alma percorre os cantos,
Desencantos de amores pútridos,
Pruridos não sentidos, gemidos,
Sussurros, murros, escapadas.
Mãos calejadas me agarram
Na marra. Sou o ator dessa cena
Obscena e ridiculamente singela,
Tão tosca, fétida, imunda,
Que me inunda por todos os poros
Então choro, choro e me escuto:
Meu ser clama por uma chama
Que me destrua, me deixe nua,
Sem alma e sem calma.
Mas o fogo ainda queima o peito
Então deito e suplico a morte
Jogo minha vida à sorte:
Sem sorte num jogo que mata.
Meu carma é penar nessa lata
Vira-lata de carnes humanas
Vidrado por sexo, por carne.
Apaixonado por amor sem sentimento,
Lamento e imploro a mim mesmo
Que saia da lama e volte
E deite na cama que é leito.
Aproveito e acordo do sono
Por pouco não volto ao lodo
Por nada não quero esta paz
Que me traz de volta ao sublime
Cansei de ser puro e ingênuo
Quero o crime do sangue e do corpo.
Salvador, 23 de fevereiro de 2005