sábado, maio 21, 2005

Pela Dor da Verdade

Por Anselmo Vieira

Eu não reconheço em você a mesma pessoa.
Vejo seu rosto mas é como se fosse um rosto estranho pra mim.
É como se a obra prima da minha vida tivesse sido retocada por outro artista.
É como se a minha poesia recebesse versos de outro poeta
É como se a minha música tivesse a melodia mudada por outro compositor
E a impressão que fica é que jamais terei a pureza da minha obra
Mesmo que ela não seja a mais bela.
Mesmo que eu não seja o melhor.
Sinto não mais ser o seu artista.

Tenho quebrado as minhas promessas que fiz em silêncio
De não mais pensar demais
De não mais querer lembrar
Tenho quebrado o juramento que me fiz no escuro
De que nada morre tão fácil ou tão cedo
Mas o coração sufoca o choro e isso machuca

Não consigo mais lamentar o espaço entre nós
Vejo nosso reflexo mas é como se não soubesse quem somos nós
É como se alguém decidisse por mim os rumos do meu dia
É como se alguém respondesse por mim sobre coisas pessoais
É como se meus segredos fossem descobertos por quem nem conheço
E o que sinto no fim é que fui preterido em nome de estranhos
Mesmo que eu saiba da verdade
Mesmo que tenha conhecimento dos fatos
Outros foram eu sem eu saber

Não tenho conseguido olhar meus olhos no espelho
É estranho sentir pena da face que vejo ali refletida na minha frente
É como se eu visse os meus sonhos realizados para outros
É como se meu nome fosse atendido por um mero estranho
É como se eu fosse deixado de lado na hora do embarque
Uma sensação estranha de que me arrancaram um pedaço
Mesmo que metáforas não passem de metáforas
Mesmo ate que eu reconheça meus exageros
A minha vida fica parecendo um filme que não vi

A dor que sinto não é apenas pela quantidade
Não é apenas pelos fatos e pelas mentiras
Não é apenas por tudo o que você fez
A minha dor maior é por ter tido a minha vida roubada

10 de Fevereiro de 2005